segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

eu

o terceiro volume do romance "minha luta", de karl ove knausgard, começa se perguntando quem é o "eu" das fotos que guardamos da nossa infância. por que aquele "eu" é "eu"? se nos mostrassem a foto de outra criança, dizendo que aquele é "eu", também não poderia ser? o autor chega até a sugerir que tivéssemos, cada um, nomes diferentes para idades diferentes, porque, afinal de contas, nada, além do nome, nos identifica naquela foto. ser "eu", nessas condições, seria somente uma abstração. mas o que identifica o "eu" de agora? provavelmente, só o fato de que ele coincide com a enunciação atual da palavra "eu". esse "eu", assim como aquele, tampouco existe e não passa de dois sons, "e" e "u". por outro lado, karl ove, a covinha no queixo, a verruga na orelha, o olhar distraído, a coca cola no gargalo, um cílio torto, a blusinha de cambraia, a sola do sapato suja de cocô de cachorro, isso tudo é de quem, hein, karl ove? responde agora, quero ver!

Um comentário:

  1. Sempre na frente, não é Noemi. Acabei de ler o primeiro volume agora. :(
    Que o segundo seja rapidinho para que eu possa, (também?), confirmar que uma covinha no queixo não me define. Hahahaha. :)
    Saudade. Beijo grande.

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